O que as fortes chuvas no litoral norte de São Paulo e as enchentes têm a nos ensinar
MEIO AMBIENTE


As chuvas fortes que atingem o litoral norte de São Paulo, causando mortes e destruição, são um reflexo de um problema que se repete todos os anos: as enchentes. A tragédia cíclica das inundações nos mostra uma dura realidade e nos leva a refletir sobre as soluções que podemos adotar para mitigar esse desastre tão frequente no Brasil.
A situação climática do país tem piorado a cada ano. Desde 1950, as catástrofes climáticas aumentaram em 50%. As populações mais vulneráveis, que vivem em morros e áreas de risco, são as mais impactadas. A cada tragédia, a desigualdade social se torna ainda mais evidente, já que as pessoas mais pobres são as mais afetadas pelas chuvas e deslizamentos de terra.
Mas será que existe uma solução para esse problema? Para buscar respostas, investiguei o que cidades ao redor do mundo têm feito para controlar as enchentes e como o Brasil poderia adotar algumas dessas práticas. Embora as soluções propostas não sejam fáceis de implementar, elas oferecem um caminho para reduzir os impactos catastróficos das chuvas intensas.
O que pode ser feito
De acordo com o C40, um grupo de 96 grandes cidades focadas na resolução de problemas climáticos, o primeiro passo para combater as enchentes é mapear as áreas de risco. Estudar o histórico das inundações e a geografia da cidade é fundamental para entender onde as enchentes acontecem e como a cidade reage a esses eventos.
A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, fez um bom trabalho ao criar o índice de suscetibilidade à inundação, que ajuda a prever os locais mais vulneráveis. No entanto, a falta de investimento em sistemas avançados de mapeamento e a falta de infraestrutura adequada para as áreas de risco são obstáculos significativos para o Brasil.
Um bom exemplo de sucesso é o trabalho de cidades como Toronto, no Canadá, e Durban, na África do Sul, que realizam manutenção cíclica da drenagem urbana antes da temporada de chuvas, prevenindo entupimentos e alagamentos. Além disso, o uso de alarmes, construção de abrigos e distribuição de sacos de areia para barragens improvisadas são medidas eficazes para proteger as pessoas durante as enchentes.
A longo prazo
As áreas verdes desempenham um papel crucial na drenagem da água, na redução das ilhas de calor e no combate às secas. São espaços fundamentais para melhorar a qualidade do ar, reduzir os impactos das chuvas e até mesmo criar pontos de lazer para a população. Implementar mais áreas verdes pode parecer simples, mas é uma das etapas essenciais para transformar nossas cidades.
Além disso, a preservação das margens dos rios e a construção de reservatórios são outras ações que podem diminuir os danos das enchentes. Cidades como Rotterdam, Bangkok e Copenhague já demonstraram o sucesso dessas iniciativas, e o Rio de Janeiro também tem avançado na construção de reservatórios para ajudar a conter a água.
O papel da política pública
As soluções para o controle das enchentes não se resolvem em um ciclo eleitoral. Elas requerem políticas públicas de longo prazo que transcendam candidatos e partidos políticos. Programas como subsídios para a instalação de sistemas de proteção contra enchentes nas casas dos moradores, como é feito em Toronto, são exemplos de como a colaboração entre governo e população pode gerar benefícios para toda a cidade.
Uma reflexão final
É importante refletir sobre a relação entre as enchentes e a desigualdade social. Nos Estados Unidos, por exemplo, as áreas mais suscetíveis a inundações são habitadas por pessoas negras, como resultado de uma política habitacional racista que excluía essas populações da possibilidade de viver em áreas mais seguras. No Brasil, a realidade das favelas e das comunidades mais pobres é um reflexo de um problema semelhante.
A tragédia das enchentes no Brasil é um problema complexo, mas não impossível de resolver. Precisamos, como sociedade, exigir políticas públicas eficazes, planejamento urbano de longo prazo e, principalmente, uma visão integrada de como lidar com as mudanças climáticas e suas consequências.